O
ramo do Cristianismo chamado Ortodoxia é um sistema teológico apoiado “nos pais
gregos, especialmente Atanásio e os capadócios (Basílio o Grande, Gregório de
Nazianzo e Gregório de Nissa). [Sua perspectiva é] filosófica, mística e
personalista.” (SAWYER, 2009, p. 261). Considerado conservador, tem preservado
uma continuidade com traços das tradições da Igreja antiga. Reflete um
enraizamento teológico – nos pais e nos concílios – perdido na tradição
católica romana. Oferece uma crítica histórica relevante às reivindicações universais
do Catolicismo romano; por seu lado, suas tradições e teologia alcançaram toda
a Europa e além dos países católico-romanos para influenciar o desenvolvimento
da Reforme norte-europeia da Igreja – contribuição que às vezes é subestimada
ou inteiramente negligenciada.
Esse
ramo cristão foi definido, apesar de suas raízes estarem presentes no
pensamento cristão do Oriente desde tempos mais antigos (476-519 e 867 d. C.), a
partir do chamado Grande Cisma, termo que denomina a separação entre os ramos
católico ocidental e ortodoxo oriental do Cristianismo, ocorrido em 1054.
Dentre as razões para a separação, destacam-se 1) as teológicas, como a adição
da frase “e o Filho” (filioque) ao
Credo niceno, por parte da Igreja do Ocidente etc.; 2) as naturais, como as
línguas diferentes faladas pelos dois lados (latim, no Ocidente e grego, no
Oriente) etc.; 3) e as metodológicas, como o foco do exercício do pensamento
para um entendimento pragmático e legal da doutrina, no Ocidente e mais personalista
e mística refletindo a herança dos pais gregos, no Oriente etc..
Suas
principais doutrinas são: 1) o mistério de Deus, 2) a Trindade, 3) o filioque e
a processão do Espírito Santo, todas subordinadas a uma teologia apofática (gr. kataphasis, afirmação) da negação. Ex.: Deus pode ser descrito como
o que ele não é, em vez de descrito com asserções positivas sobre o que ele é. Quanto
às imagens, 1) em concordância com o AT, afirma que “Deus se revela
inteiramente transcendente em relação a qualquer imagem que possa fazer
conhecida a sua natureza” (SAWYER, 2009, p. 268) e, ao fazer uso de ícones e
veneração aos santos, seu preceito central é a noção de que Cristo é a imagem (gr.
eikon) do Pai. Portanto, a “imagem de
Cristo – a imagem visível do Deus invisível – está bem perto do cerne do
entendimento teológico ortodoxo oriental.” (SAWYER, 2009, p. 269). Segundo os
ortodoxos, quando se prostram diante de ícones – “livros abertos que nos
lembram de Deus –, veneram-no em vez de adorá-los, pois a adoração é devida a
Deus somente. Em relação à deificação (theosis), é a categoria mais importante
para a salvação; no dizer de Atanásio, Cristo se tornou homem para que o homem
se tornasse deus, ou seja, participante da natureza divina e no dizer de Máximo
o Confessor, “Tudo o que Deus é, exceto por uma identidade na natureza, é o que
alguém se torna quando é deificado pela graça.” (apud SAWYER, 2009, p. 273). E, em relação às Escrituras, a
autoridade não se encontra na objetiva Palavra de Deus escrita, mas como
interna e pneumática, dogmática e externa.
BIBLIOGRAFIA:
SAWYER, M. James. Uma introdução à teologia: das questões preliminares, da vocação e do labor teológico. São Paulo: Vida, 2009. p. 261-279.
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