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13 de maio de 2012

À Ana Carolina e Marly, o Catolicismo Romano.



O ramo do Cristianismo conhecido por Catolicismo tem seu nome originado no grego kaqoliko/j, katholikos, geral ou universal designando dois ramos do Cristianismo: o católico romano e o ortodoxo. Esta denominação é frequentemente chamada Igreja Católica Apostólica Romana, muito embora o seu nome formal seja apenas "Igreja Católica". Com essa designação, surgiu no séc. XVI, no calor da Reforma Protestante. Seus fieis consideram-se membros da Igreja universal, fundada por Jesus Cristo e presidida pelo bispo de Roma, o papa, “legítimo herdeiro da suprema autoridade espiritual do apóstolo Pedro e vigário (representante) de Cristo.” (SAWYER, 2009, p. 281). O consenso católico foi desenvolvido desde a virada do séc. I para o séc. II, quando já se manifestava forte tendência à institucionalização; do séc. II para o II, quando começaram as reivindicações em favor da sucessão apostólica; do séc. IV, quando o lugar do Cristianismo no mundo mudou dramaticamente com a legalização da igreja como a religião oficial do Império Romano. Seguiram-se a ascensão do papado, ligada a fatores políticos e culturais e à história teológica (séc. IVss); o Grande Cisma, quando houve a ruptura com a ortodoxia (marcada historicamente pela ruptura no Império Romano entre o Ocidente latino e o Oriente grego) resultando, “na prática, em duas igrejas separadas, cada uma com idioma, costumes, liturgia e teologia peculiares” (SAWYER, 2009, p. 284). 

Dentre as causas desse rompimento, como visto no ramo chamado Ortodoxia, encontram-se, distintamente: 1) a expressão latina filioque (“e o Filho”), acrescentado no Credo niceno pelo Sínodo de Toledo (589 d. C.) referindo-se ao relacionamento do Espírito Santo com o Pai e o Filho; e 2) a decisão do papa Leão IX de excomungar o patriarca de Constantinopla, o qual, por sua vez, também excomungou o papa e a Igreja ocidental naquele mesmo ano. 

São aspectos inerentes ao Catolicismo Romano: 1) o escolasticismo, resultante de fatores como a redescoberta da filosofia aristotélica, a crise de autoridade na Igreja e o desejo de dialogar com membros razoáveis de outras religiões sobre questões acerca da verdade definitiva; 2) a decadência no final da Idade Média, ocorrida na seqüência do auge do pensamento escolástico com Anselmo, Alberto Magno, Tomás de Aquino e outros luminares, e após a proeminência política desfrutada no papado de Inocêncio III, foi marcada por declínio moral, espiritual, político e teológico. Sawyer (2009, p. 286) afirma que “O centro de poder na Igreja durante esse período vacilava entre o papa e os concílios eclesiásticos”; 3) a Reforma, decorrência direta da decadência no período anterior, gerou, em um primeiro momento, a reações defensivas da Igreja como a excomunhão do líder do movimento, Martinho Lutero; contudo, seu crescimento e consolidação levaram à convocação de um concílio (de Trento), cujo objetivo foi corrigir os abusos provocadores da Reforma e não uma concentração na ameaça protestante; o Concílio definiu a teologia católica, como segue: adotou a teologia de Tomás de Aquino e sua síntese de Aristóteles e das Escrituras, identificou formalmente duas fontes de autoridade dentro da Igreja – as Escrituras e a tradição não escrita –, a conquista da hegemonia sobre a autoridade dos concílios etc.; 4) a Igreja desde o Vaticano II é decorrência de rachaduras no consenso universal e sua estrutura monolítica provocadas por questionamentos de sua posição numa variedade de assuntos por parte de biblistas e teólogos católicos, o que levou à convocação do Concílio Vaticano II, em 1962, em reconhecimento das mudanças ocorridas no mundo e na própria Igreja. Dentre os resultados desse Concílio, destacam-se: a) a reafirmação da doutrina da infalibilidade papal e a extensão dos limites da autoridade dos bispos; b) a indicação de uma mudança do conceito tomista racionalista do conhecimento de Deus para uma abordagem mais imediata e intuitiva e a adoção de uma fonte única de autoridade pela qual a tradição passa a consistir apenas no modo tradicional de interpretar as Escrituras e não mais na segunda fonte de autoridade; c) a perspectiva revolucionária em relação aos que estão fora da Igreja católica, aceitos agora como os “irmãos separados” (protestantes) e os “descendentes diretos da Igreja apostólica” (ortodoxos); d) a reafirmação da primazia das Escrituras na teologia moral, e a reinterpretação da lei como uma lei do Espírito em Cristo, doadora de vida, e a necessidade de uma conversão pessoal juntamente com um convite à maturidade de todos os cristãos; e) a abertura para o surgimento da teologia da libertação, movimento teológico, católico romano em sua origem e fortemente católico na expressão contínua de seu caráter; 5) o papado é justificado, no Catolicismo, em Mateus 16.17-19 e João 21.15-19 e sua infalibilidade oficializada no Concílio Vaticano I (1870); 6) a elevação das autoridades (teológicas, políticas, temporais, etc.) tem justificativas nos consensos correspondentes; 7) a posição de Maria no culto (o culto a virgem bendita) foi construída ao longo dos séculos até que, em 1854, a doutrina da imaculada conceição foi promulgada, e, em 1950, a doutrina da assunção ao céu também foi promulgada como dogma católico oficial. 

Quanto à teologia, os principais pontos são: 1) Deus é transcendente em seu distanciamento da humanidade: é sublime e santo, é separado de tudo o que é pecaminoso; 2) raízes do Catolicismo romano estão “na História, tanto que ele reivindica uma linha ininterrupta de sucessão de autoridade espiritual que retrocede até o apóstolo Pedro, a quem Jesus confiou as ´chaves do Reino´”. (SAWYER, 2009, p. 292).  Seus credos mais importantes são o Credo niceno, o Credo de Atanásio e a definição cristológica do Concílio de Calcedônia, assim como o restante das sete primeiras decisões conciliares ecumênicas; seus teólogos mais importantes podem ser representados por duas figuras influentes da antiguidade: Agostinho de Hipona (sécs. IV e V), que estabeleceu a pauta teológica para o Cristianismo Ocidental do milênio seguinte e a síntese teológica que perduraria até o séc. XIII, e Tomás de Aquino (séc. XIII), que apresentou nova síntese teológica incorporando a recém-introduzida filosofia aristotélica em suas formulações. Deve-se considerar também a influência do cardeal John Henry Newman (ex-sacerdote evangelical anglicano convertido ao Catolicismo) que argumentou a existência de uma constatação progressiva da verdade revelada nas Escrituras, vista sob sete princípios ou testes do verdadeiro desenvolvimento em ação no amadurecimento da doutrina (desenvolvimento é diferente de corrupção). Outros pontos distintivos do Catolicismo são: a justificação pela fé, o sacramentalismo, o sacerdotalismo e a eclesiologia.



REFERÊNCIA:

SAWYER, M. James. Uma introdução à teologia: das questões preliminares, da vocação e do labor teológico. São Paulo: Vida, 2009. p. 281-309.

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