O ramo do Cristianismo conhecido
por Catolicismo tem seu nome originado no grego kaqoliko/j, katholikos,
geral ou universal designando dois ramos do Cristianismo: o católico romano e o
ortodoxo. Esta denominação é frequentemente chamada Igreja Católica Apostólica Romana, muito embora o seu nome formal
seja apenas "Igreja Católica".
Com essa designação, surgiu no séc. XVI, no calor da Reforma Protestante. Seus fieis
consideram-se membros da Igreja universal, fundada por Jesus Cristo e presidida
pelo bispo de Roma, o papa, “legítimo herdeiro da suprema autoridade espiritual
do apóstolo Pedro e vigário (representante) de Cristo.” (SAWYER, 2009, p. 281).
O consenso católico foi desenvolvido desde a virada do séc. I para o séc. II,
quando já se manifestava forte tendência à institucionalização; do séc. II para
o II, quando começaram as reivindicações em favor da sucessão apostólica; do
séc. IV, quando o lugar do Cristianismo no mundo mudou dramaticamente com a
legalização da igreja como a religião oficial do Império Romano. Seguiram-se a
ascensão do papado, ligada a fatores políticos e culturais e à história
teológica (séc. IVss); o Grande Cisma, quando houve a ruptura com a ortodoxia
(marcada historicamente pela ruptura no Império Romano entre o Ocidente latino
e o Oriente grego) resultando, “na prática, em duas igrejas separadas, cada uma
com idioma, costumes, liturgia e teologia peculiares” (SAWYER, 2009, p. 284).
Dentre as causas desse
rompimento, como visto no ramo chamado Ortodoxia, encontram-se, distintamente:
1) a expressão latina filioque (“e o
Filho”), acrescentado no Credo niceno pelo Sínodo de Toledo (589 d. C.)
referindo-se ao relacionamento do Espírito Santo com o Pai e o Filho; e 2) a
decisão do papa Leão IX de excomungar o patriarca de Constantinopla, o qual,
por sua vez, também excomungou o papa e a Igreja ocidental naquele mesmo ano.
São aspectos inerentes ao
Catolicismo Romano: 1) o escolasticismo,
resultante de fatores como a redescoberta da filosofia aristotélica, a crise de
autoridade na Igreja e o desejo de dialogar com membros razoáveis de outras
religiões sobre questões acerca da verdade definitiva; 2) a decadência no final da Idade Média, ocorrida na seqüência do auge
do pensamento escolástico com Anselmo, Alberto Magno, Tomás de Aquino e outros
luminares, e após a proeminência política desfrutada no papado de Inocêncio
III, foi marcada por declínio moral, espiritual, político e teológico. Sawyer
(2009, p. 286) afirma que “O centro de poder na Igreja durante esse período
vacilava entre o papa e os concílios eclesiásticos”; 3) a Reforma, decorrência direta da decadência no período anterior, gerou,
em um primeiro momento, a reações defensivas da Igreja como a excomunhão do
líder do movimento, Martinho Lutero; contudo, seu crescimento e consolidação
levaram à convocação de um concílio (de Trento), cujo objetivo foi corrigir os
abusos provocadores da Reforma e não uma concentração na ameaça protestante; o
Concílio definiu a teologia católica, como segue: adotou a teologia de Tomás de
Aquino e sua síntese de Aristóteles e das Escrituras, identificou formalmente
duas fontes de autoridade dentro da Igreja – as Escrituras e a tradição não
escrita –, a conquista da hegemonia sobre a autoridade dos concílios etc.; 4) a Igreja desde o Vaticano II é
decorrência de rachaduras no consenso universal e sua estrutura monolítica
provocadas por questionamentos de sua posição numa variedade de assuntos por
parte de biblistas e teólogos católicos, o que levou à convocação do Concílio Vaticano
II, em 1962, em reconhecimento das mudanças ocorridas no mundo e na própria
Igreja. Dentre os resultados desse Concílio, destacam-se: a) a reafirmação da
doutrina da infalibilidade papal e a extensão dos limites da autoridade dos
bispos; b) a indicação de uma mudança do conceito tomista racionalista do
conhecimento de Deus para uma abordagem mais imediata e intuitiva e a adoção de
uma fonte única de autoridade pela qual a tradição passa a consistir apenas no
modo tradicional de interpretar as Escrituras e não mais na segunda fonte de
autoridade; c) a perspectiva revolucionária em relação aos que estão fora da
Igreja católica, aceitos agora como os “irmãos separados” (protestantes) e os “descendentes
diretos da Igreja apostólica” (ortodoxos); d) a reafirmação da primazia das
Escrituras na teologia moral, e a reinterpretação da lei como uma lei do
Espírito em Cristo, doadora de vida, e a necessidade de uma conversão pessoal
juntamente com um convite à maturidade de todos os cristãos; e) a abertura para
o surgimento da teologia da libertação, movimento teológico, católico romano em
sua origem e fortemente católico na expressão contínua de seu caráter; 5) o papado é justificado, no Catolicismo,
em Mateus 16.17-19 e João 21.15-19 e sua infalibilidade oficializada no
Concílio Vaticano I (1870); 6) a elevação das autoridades (teológicas,
políticas, temporais, etc.) tem justificativas nos consensos correspondentes;
7) a posição de Maria no culto (o culto a virgem bendita) foi construída ao
longo dos séculos até que, em 1854, a doutrina da imaculada conceição foi
promulgada, e, em 1950, a doutrina da assunção ao céu também foi promulgada
como dogma católico oficial.
Quanto à teologia, os principais
pontos são: 1) Deus é transcendente
em seu distanciamento da humanidade: é sublime e santo, é separado de tudo o
que é pecaminoso; 2) raízes do
Catolicismo romano estão “na História, tanto que ele reivindica uma linha
ininterrupta de sucessão de autoridade espiritual que retrocede até o apóstolo
Pedro, a quem Jesus confiou as ´chaves do Reino´”. (SAWYER, 2009, p. 292). Seus credos mais importantes são o Credo
niceno, o Credo de Atanásio e a definição cristológica do Concílio de
Calcedônia, assim como o restante das sete primeiras decisões conciliares
ecumênicas; seus teólogos mais importantes podem ser representados por duas
figuras influentes da antiguidade: Agostinho de Hipona (sécs. IV e V), que
estabeleceu a pauta teológica para o Cristianismo Ocidental do milênio seguinte
e a síntese teológica que perduraria até o séc. XIII, e Tomás de Aquino (séc.
XIII), que apresentou nova síntese teológica incorporando a recém-introduzida
filosofia aristotélica em suas formulações. Deve-se considerar também a
influência do cardeal John Henry Newman (ex-sacerdote evangelical anglicano
convertido ao Catolicismo) que argumentou a existência de uma constatação
progressiva da verdade revelada nas Escrituras, vista sob sete princípios ou
testes do verdadeiro desenvolvimento em ação no amadurecimento da doutrina
(desenvolvimento é diferente de corrupção). Outros pontos distintivos do
Catolicismo são: a justificação pela fé, o sacramentalismo, o sacerdotalismo e
a eclesiologia.
REFERÊNCIA:
SAWYER, M. James. Uma introdução
à teologia: das questões preliminares, da vocação e do labor teológico. São
Paulo: Vida, 2009. p. 281-309.
Nenhum comentário:
Postar um comentário